Um sistema alternativo mais sustentável para piscicultura, denominado Tecnologia de Bioflocos (BFT), vem sendo estudado para intensificar a produção de peixes nativos da Amazônia no Laboratório de Fisiologia Aplicada à Piscicultura (Lafap) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI). Essa tecnologia foi um dos atrativos expostos no Bosque da Ciência do Inpa durante a Semana do Meio Ambiente.
No sistema convencional de criação de peixes, há necessidade de troca de água diária para controle de compostos nitrogenados tóxicos presentes no ambiente, como amônia e nitrito. Além disso, para a produção de 1kg de peixe em sistemas convencionais, o consumo de água pode chegar a aproximadamente 19 mil litros. Em sistemas com BFT, o consumo é reduzido para aproximadamente 87 litros de água, explica Moacir Teodoro Neto, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Aquicultura, da Universidade Nilton Lins em parceria com o Inpa, e bolsista de Apoio Técnico CNPq no Lafap.
Os flocos são formados pela matéria orgânica, oriunda do próprio meio de produção e por diversas espécies de microrganismos benéficos, com predominância das bactérias que realizam a transformação dos compostos nitrogenados tóxicos da água, além da ciclagem dos nutrientes. Isso permite a depuração da água para seu reuso em vários ciclos de produção aquícola, o que evita a troca diária de água, já que os microrganismos fazem esta tarefa.
Para a manutenção dos flocos em suspensão na água, é necessária uma aeração constante, o que gera demanda contínua de energia. No entanto, o uso da placa de energia solar seria uma alternativa mais viável, tornando o sistema sustentável nos aspectos de baixo consumo de água e de energia.
Além dos benefícios ao meio ambiente, a tecnologia de bioflocos também oferece inúmeras vantagens para a produção. Dentre essas, o aumento da densidade de estocagem, a redução do nível de proteína na ração, devido a biomassa microbiana servir como suplemento alimentar para espécies de peixes que são capazes de filtrar e consumir os flocos. Além disso, ocorre o aumento da resistência imunológica dos organismos produzidos, decorrente dos imunoestimulantes presentes nos flocos.
“A grande vantagem do sistema ao meio ambiente é por ser um sistema de produção fechado, capaz de controlar os compostos tóxicos aos animais, sem a necessidade de troca de água, reduzindo drasticamente o descarte dos efluentes (resíduos). Todos esses compostos que poderiam ser prejudiciais ao meio ambiente são controlados no próprio sistema”, destaca Teodoro Neto.
O bolsista técnico pesquisou no mestrado o sistema de bioflocos na larvicultura do matrinxã. “Um fato interessante é que as larvas de matrinxã são canibais nas fases iniciais de desenvolvimento. A turbidez da água, proporcionada pelos flocos em suspensão, mostraram um resultado favorável no controle do canibalismo devido à diminuição da visibilidade das larvas, evitando os encontros entre essas e diminuindo os comportamentos agressivos intraespecíficos da espécie”, ressalta.
Além da exibição dos dois aquários (o tradicional e o bioflocos) com a presença de espécies matrinxã e tambaqui, os visitantes também tiveram oportunidades de aprender com jogos educativos sobre esse sistema e de ver na lupa os microrganismos presentes nas diferentes águas, principalmente, no bioflocos. “A intenção é mostrar como organismos tão pequenos podem contribuir muito para melhorar as condições da qualidade de água durante a criação dos peixes”, explica Elizabeth Gusmão, pesquisadora do Inpa e líder do Grupo de Pesquisa em Aquicultura.
Semana do Meio Ambiente no Inpa
A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o dia 5 de junho dedicado ao Meio Ambiente. A data foi escolhida durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente realizada em Estocolmo em 1972, que alertou sobre a importância da conservação do meio ambiente.
Tradicionalmente o Inpa organiza a Semana do Meio Ambiente com diversas atividades como exposições, oficinas, jogos educativos, palestras etc. Nesta edição, foram mais de 20 atividades que aconteceram no espaço do Bosque da Ciência. Os visitantes puderam explorar os espaços do Bosque, conhecer a fauna, flora e projetos desenvolvidos pelo Inpa e parceiros.
A Semana de Meio Ambiente do Inpa é útil como atividade complementar para escolas públicas e privadas de Manaus. Adriana Tavares de Andrade é professora da disciplina Ciência e Educação Ambiental do 5º ao 9º do Centro Integrado Milton Pongitory. Ela explica que seus alunos desenvolveram, durante a semana, atividades internas na escola voltados para conservação do meio ambiente. O objetivo do passeio no Bosque é ver o que se aprendeu na prática e sensibilizá-los sobre as questões ambientais.
“Todos os anos eu levo, nessa data comemorativa, os meus alunos em algum lugar onde eles possam se sensibilizar, ver a natureza e para que eles possam preservar a floresta Amazônica, principalmente, por ser uma das florestas mais ricas de biodiversidade”, destaca Adriana Andrade.
Além de ser uma atividade educativa, também é um momento de recordar. O aposentado Pedro Gondim acompanhou sua neta, Ana Laís, 4, na visita escolar ao Bosque da Ciência e aproveitou o momento para revisitar o espaço, que conheceu quando era estudante.
“Essa atividade da Semana é uma boa iniciativa. As crianças aprendem como se deve tratar os animais, tratar a floresta e o meio ambiente de modo geral. E eu estou aproveitando também para rever. Eu tinha entrado aqui há muitos anos quando eu era estudante. E agora eu retornei aqui de novo”, recorda Gondim.
O Bosque da Ciência – localizado na rua Bem-te-vi, s/nº , bairro Petrópolis – funcionará normalmente no fim de semana, das 9h às 12h e das 14h às 17h, mas sem as atividades da Semana do Meio Ambiente. A entrada é gratuita mediante agendamento no site.
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